Em que ponto se encontra o trabalho do Dulcinéia Catadora hoje?
Iniciamos o projeto no Brasil em fevereiro desse ano, após o trabalho com o Eloísa Cartonera na Bienal de Internacional de Artes de São Paulo, em 2006, e a realização de painéis e oficinas no Sesc Pompéia, em janeiro deste ano. O coletivo desenvolve atividades duas vezes por semana, contando com a participação de oito pessoas. Temos 27 títulos lançados.
E como você conheceu o Eloísa Cartonera?
Conheci o Eloísa no início de 2006. Estava realizando um trabalho artístico com catadores de papel no bairro do Pari, que envolvia gravação de conversas com eles e objetos de papelão que eu comprava deles. Por um blog, soube da existência do Eloísa e começamos a trocar e-mails sobre nossas atividades.
De que maneira esse projeto mexe com a vida das pessoas que trabalham nele?
O projeto redistribui a renda gerada com a venda dos livros (cada um custa R$ 5). Procuramos estimular a criatividade dos participantes que realizam a pintura das capas. Isso levou um deles, Peterson, a iniciar um curso de fotografia e a querer se profissionalizar. Mas é preciso lembrar que não há mais razão para alimentarmos utopias.
O Dulcinéia inaugurou uma nova maneira de trabalho no mercado editorial?
O Dulcinéia vai na contramão do mercado editorial. Confecciona livros, divulga autores e traz um preço acessível a um público amplo. O projeto descarta o fator “vendas” na seleção de títulos e autores –
procuramos dar voz a bons escritores que ainda não publicaram, descobrir autores entre catadores, população de rua e outros em situações desprivilegiadas. No entanto, nossa ação como coletivo tem, claro, um alcance restrito.
Vocês possuem patrocínio, parcerias ou recebem algum tipo de ajuda governamental ou empresarial?
Contamos com o apoio do Movimento Nacional dos Catadores de Recicláveis e do Movimento Nacional da População de Rua, que nos ajudam a fazer partes das cópias que compõem os livros. E o projeto funciona em uma sala do Aprendiz (www.aprendiz.uol.com.br), viabilizando a continuidade do coletivo.
Que projetos o coletivo prepara para o futuro?
Apenas dar continuidade às atividades que já estão sendo realizadas e, se possível, “trocar” títulos com os outros núcleos (do Peru, Bolívia e principalmente, da Argentina).